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Depois de vários pedidos, decidi criar neste espaço uma rubrica mensal: a Peça do Mês. Neste espaço irei partilhar, de forma sumária, uma peça quatrocentista portuguesa – de arte, de armamento, de roupa – que nos ajude a aprofundar a nossa visão da vida em Portugal nas décadas de 70 e 80 do século XV.
E a peça inaugural é…
PEÇA DO MÊS I – VISEIRA DE CELADA
Colecção: Museu Militar, Lisboa – Portugal (Inv. – MML. N.º 21/88)
Datação: Século XV, segunda metade (?)
Proveniência: Desconhecida
Local de Manufactura: Desconhecido
Dimensões: 16cm de altura x 28cm de largura
Peso: 343g
Materiais: Aço (?)
Descrição: Viseira de face inteira, feita de uma única peça de metal, com aresta central a todo o comprimento. Apresenta dois pares de orifícios em cada extremidade lateral: o maior destes orifícios serviria serviria para um rebite ou perno de fixação ao casco da celada; o orifício mais pequeno pode ter servido para fixação posterior noutra celada ou sido feito para efeitos expositivos. Integra um reforço de testa, com borda em recorte duplo e um grande prolongamento central (com um pequeno orifício no topo) que termina numa aresta quase redonda.

A abertura da viseira ou ocularium consiste em duas fendas horizontais, separadas no centro por uma pequena lingueta de aço sobre a zona do nariz. Esta lingueta constitui uma ponte entre a zona do reforço de testa e o bordo grosso e saliente que corre ao longo das aberturas para visão. Junto ao bordo inferior da viseira existe outro pequenino orifício, sem aparente propósito.

Esta viseira é o único e último testemunho, em solo português, das muitas celadas que certamente terão passado pela cidade de Lisboa no século XV e sido armazenadas no Arsenal Régio. É impossível determinar onde terá sido feita. Marcas de armeiro, não as

há. Já as opções estilísticas escolhidas para esta peça – que tem muito em comum com uma celada de ca. 1460-1490 que se conserva no Victoria & Albert Museum de Londres [1] – coadunam-se com uma variedade de “estilos” regionais em uso na Idade Média em Portugal (anglo-/franco-borgonheses, italianos de exportação…). Pode, inclusive, ter sido feita em Portugal, por armeiros portugueses. Não há como saber. Ainda assim, venha de onde venha, esta viseira permite-nos formar uma ideia muito clara do tipo de celadas que se usariam por terras lusas.
[1] http://collections.vam.ac.uk/item/O92981/sallet-unknown/
BIBLIOGRAFIA
Agostinho, P. (2012). Vestidos para matar: o armamento de guerra na cronística portuguesa de quatrocentos. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra
Barroca, M. E Monteiro, J. (Coords.) (2000). Pera Guerrejar. Armamento Medieval no Espaço Português. Palmela: Câmara Municipal de Palmela
Monteiro, J. G. (2001). Armeiros e Armazéns nos Finais da Idade Média. Viseu: Palimage Editores
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