Túmulo e Jacente de D. João de Albuquerque

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Tive a oportunidade de visitar muito recentemente o túmulo e jacente de João de Albuquerque no Museu Municipal de Aveiro, e gostaria de partilhar convosco algumas das fotografias que tirei deste belíssimo túmulo, bem como algumas breves notas sobre a vida do cavaleiro.

Perspectiva geral do túmulo de D. João de Albuquerque.

BREVÍSSIMA NOTA BIOGRÁFICA

D. João de Albuquerque, senhor de Angeja, foi um fidalgo português, um “onrado Sõr E uallente Cavaleyro” de D. Afonso V, falecido em 1483. A inscrição que ladeia o seu túmulo, assinalada com a data de 1478, relata os seus feitos nas campanhas do Norte de África – principalmente nas Canárias, onde se terá distinguido  contra os habitantes locais . Não sabemos muito mais de relevante sobre este fidalgo até à data de 1477, altura em que o tumulado fez uma doação de uma quinta aos monges do Mosteiro de Nossa Senhora da Misericórdia de Aveiro (a actual Sé de Aveiro), para nele instituir uma capela funerária para si e para a sua mulher, D. Helena Pereira. A doação seria confirmada em 1484 por D. João II, em documento que atesta ao falecimento do cavaleiro.

Pormenor das armas de D. João de Albuquerque, rodeadas por motivos vegetalistas manuelinos. No topo podem ver-se duas secções do epitáfio do cavaleiro.

O TÚMULO E O JACENTE

Após várias remodelações da capela funerária ao longo dos anos, e face ao esquecimento e negligência a que o túmulo tinha sido votado na sua localização original, foi decidido trasladá-lo para o Museu de Aveiro em 1945.

Perspectiva da secção média do jacente. Note-se o pormenor do recortado decorativo das lâminas dos codais, o saio de malha a emergir do fraldão e as pequenas placas segmentadas dos dedos da manopla.

O túmulo propriamente dito divide-se em duas partes: o jacente, realizado entre 1477 e 1484, e a arca feral, elaborada em pleno período manuelino. A diferença ao nível do detalhe e capacidade técnica de ambas as peças é por demais evidente. Apesar do desgaste a que esteve sujeito, porém, e da falta de destreza do escultor, o jacente não deixa de ser um importante documento de investigação hoplológica para o período que nos interessa.

Detalhe da decoração recortada das espaldeiras, coordenadas esteticamente com as lâminas dos codais. Note-se também a panceira de dupla aresta e o gorjal de malha usado por fora do arnês.

Também na joelheira e nas suas lâminas auxiliares se nota esta preferência pelo recortado. Repare-se nas peculiares asas da joelheira, de dimensão muito reduzida.

Perspectiva das manoplas do cavaleiro.

As pernas tinham sido, a certa altura, truncadas. Repare-se na repetição dos recortados também nos escarpins/sapatos de ferro.

BIBLIOGRAFIA

Almeida, L. (1947). “Um Túmulo de Rara importância arqueológica da escola Coimbrã”, in Arquivo do Distrito de Aveiro, XIII. Aveiro: Arquivo do Distrito de Aveiro, pp. 124-128

Neves, F. (1938). “O Túmulo de João de Albuquerque em Aveiro”, in Arquivo do Distrito de Aveiro, IV (46). Aveiro: Arquivo do Distrito de Aveiro, pp. 101-107

Neves, F. (1946). “A trasladação do túmulo de João de Albuquerque”, in Arquivo do Distrito de Aveiro, XII (46). Aveiro: Arquivo do Distrito de Aveiro, pp. 99-112

Pereira, A. (2017). “Dois «Retratos» na Aveiro Quatrocentista: O Túmulo De João De Albuquerque, Senhor De Angeja, e o Retrato da Princesa Joana”, in Aveiro e a Expansão Marítima Portuguesa, 1400-1800. Aveiro: Câmara Municipal de Aveiro e Âncora Editora

 

 

 

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